Uma das vítimas de briga foi o filho de 13 anos de um vendedor que prefere não se identificar. O pai conta que um casal de irmãos agrediu o filho. O menino o segurou pelo pescoço e a menina deu um soco, que cortou a boca da vítima por dentro. "Meu filho continua com medo porque a mãe está com medo. Ela está querendo tirá-lo da escola", diz o vendedor.
No Colégio Estadual Emiliano Perneta, em Curitiba, a vulnerabilidade do entorno foi diminuída com o projeto de não violência e a comunidade chegou a fazer uma passeata da paz. Professores promovem a reflexão em sala de aula sobre a violência. Uma maneira encontrada para os alunos se expressarem é através do desenho. A maioria dos traços traz caixões, sangue e cruz. Mas deixam bem claro que a pessoa pode escolher seu próprio caminho.
Rogério Zanetti, diretor do Colégio Estadual Santa Rosa, guarda na sua gaveta objetos que compõem o que ele considera um pequeno museu. No espaço não estão raridades como recados de alunos, nem boletins com melhores notas, nem livros especiais. Lá estão objetos que Rogério lamenta ter encontrado: faca, estilete, pulseira pontuda e até objetos cortantes que estavam escondidos nos muros, que seriam usados em caso de "necessidade" por alunos.
A escola de Rogério está localizada numa área de vulnerabilidade social, no bairro Cajuru, em Curitiba. A violência entra nos muros da escola e se manifesta através de agressão verbal e física até nas brincadeiras. Uma delas é com bola e a pessoa que deixá-la cair da mão apanha dos colegas. "O meio em que algumas crianças vivem é de assassinatos e roubos. Muitas vezes nossos alunos presenciam estas cenas", diz o diretor, que está preparando uma caminhada pela paz.
A violência é uma preocupação da maioria das escolas localizadas em área de risco de Curitiba e região metropolitana. De 15 escolas consultadas pela reportagem, 10 afirmam ter problemas. A maioria dos diretores garante que a situação fica para fora dos muros. Só que ela influencia na vida escolar, com portões trancados, controle rígido na entrada, suspensão de aulas que seriam motivadas por toques de recolher, evasão escolar e até modificações na hora do recreio.
Brigas estão entre os problemas mais comuns relatados pelos diretores e correspondem a 15% das infrações registradas na Delegacia do Adolescente. Dos 3.038 procedimentos instaurados do início de 2009 até agora, 452 referem-se a lesão corporal resultante de brigas. Segundo a delegada Luciana de Novaes, boa parte tem relação com o ambiente escolar.