“A família é a célula mater da sociedade. No entanto, o momento é de renovação. A rebeldia dos jovens não pode ser vista de maneira pessimista. Todo problema visível é mais fácil de resolver. A estrutura familiar antiga oprimia e restringia muito a liberdade individual de seus membros.”
Mauro Moraes
Vivemos uma época de visível transição. Nossos valores mais significativos são testados pela avalanche do desenvolvimento e pela constância dos modismo, que trazem consigo a interrogação sobre os mais diversos aspectos de nosso cotidiano. A estabilidade não é uma característica da história da humanidade, principalmente, no topo de seus períodos cíclicos, mas nossa época é especialmente instável, exigindo atitudes que tenham por base uma ampla e profunda verdade, que ponham em evidência o caráter benevolente do ser humano, e que seja duradouro e resistente às hostilidades das irregularidades humanas. Essa é a esperança, e o impulso para a ação presente.
Mas o que queremos também é motivação para a procura de modelos no passado, embora o saudosismo possa instigar-nos a criarmos oásis em tempos que foram mais estéreis do que fecundos. A super estimação do passado emite conceitos de comportamento social que subjuga o atual momento e generaliza a definição do presente como a época da decadência irremediável. A juventude é o estereótipo da corrupção dos valores arraigados na sociedade e a distância entre as gerações se alarga não pelo espaço temporal, mas pela indisponibilidade de ambos à aproximação, o que ocasiona a propensão ao transviamento nos mais jovens e uma espécie de decadentismo nos mais experientes.
E a nossa juventude é feita “transviada”, pela falta de assessoramento daqueles que deveriam assumir a responsabilidade de lançá-la ao futuro com o sustentáculo da experiência das vidas que já foram jovens e que entendem que a juventude não deve ser tolhida em sua capacidade de renovação, pois o transcurso da humanidade ainda não se fez definitivo em termos de valores, embora já tenhamos a base. Precisamos da maleabilidade para concretizarmos a renovação que necessitamos. Carecemos da conjugação para conseguirmos movimentar as estruturas que se enferrujaram com o passar dos tempos. Mas a exatidão das atitudes a serem tomadas dependem da unidade, e esta não se mantém somente pela razão, pois a emotividade tem o poder de transcendê-la. Dependemos, pois das faculdades do sentimento para fundamentar nossa harmonia, da razão para guiar nossos passos em direção ao futuro, e da vontade para a efetivação das renovações necessárias; e o melhor lugar para o desenvolvimento desses acontecimentos é o seio da família.
A família é responsável pela educação na fase mais sensível e vulnerável da evolução humana. A saúde de uma sociedade depende da estrutura das famílias que a engendram. Os que condenam a família como instituição autocrática, a definem como uma escola de submissão, obediência e resignação, que acarreta no futuro cidadão uma necessidade de poder acrítico e ideal venerável e imitável. A relação do jovem com a família é um misto de sentimento profundo e necessidade de liberação. Porém, generalizar em conceito e características é um erro considerável, pois as exceções existem em todas as regras. Mas não podemos desconsiderar a importância primária da família, e se quisermos zelar pelo bem-estar de nossa nação, com a formação de líderes que despontem de uma juventude sadia, devemos obrigatoriamente preocupar-nos com a responsabilidade individual e coletiva na formação familiar. O planejamento familiar não deve ser somente artifício para o controle de natalidade, mas sim uma disposição de toda uma sociedade no sentido de aperfeiçoar a sua prole. Os jovens que passaram pela fase de interrogação da instituição familiar, muitas vezes revoltando-se contra ela, devem assumir a responsabilidade de aperfeiçoarem essa estrutura que é básica para os filhos que eles gerarão e que poderão mudar significativamente o rumo das decisões mundiais. As críticas à família não são destituídas de razão, porém, condená-la e estimular a sua desagregação, transferindo suas prerrogativas para qualquer outra instituição, é um erro crasso. A família é insubstituível na formação do caráter humano. Os desacertos são produtos da inerência contraditória do ser humano, que acreditamos estar em fase de superação com o desenvolvimento da consciência individual de que todo pode dar certo, desde que estejamos dispostos a previnir-nos contra nossa malevolência. Além dessa mudança individual, contamos com o auxílio das observações das ciências humanas que podem orientar-nos sobre os dispositivos da mente humana, facilitando-nos na decisão de como conduziremos as relações familiares.
O momento é de renovação. A rebeldia dos jovens com relação a família não pode ser vista de maneira pessimista, pois todo problema que é visível é mais fácil de se resolver. Aqueles que procuram nos modelos antigos de família a estrutura ideal, cometem o erro de apreciação dos fatos, visto que a estrutura familiar antiga oprimia e restringia a liberdade individual de seus membros, quer fossem pais ou filhos, enquanto que o momento revela a atitude de libertação tanto de pais quanto de filhos, deixando transparecer os problemas mais intrínsecos provindos da formação familiar defeituosa, e facilitando a compreensão e solução desse conflito. O modelo tradicional de família possui muitos aspectos bons, porém não nos deu a estrutura ideal de família, atribuindo à nossa geração de jovens a continuidade da renovação que se iniciou nas recentes gerações. A família é a célula mater da sociedade, uma cópia reduzida de nossas relações sociais, e é pela consciência da responsabilidade na formação familiar que um jovem moderno inicia uma revolução.
Os movimentos de jovens da década de 60, marcaram o início em massa da exteriorização da rebeldia dos jovens contra o “statos quo”, decretando a falência das velhas instituições sociais, porém, em detrimento do nada. A radicalização dos movimentos jovens, por carecerem de uma orientação pautada na razão, levaram a juventude à apelação aos psicotrópicos, ao direcionamento errôneo de suas energias e ao niilismo. As gerações posteriores a esse extravasamento se uma fúria contida por longo tempo, tendem à procura de equilíbrio dos valores que permeiam nossas instituições com a necessidade intrínseca de liberdade. Desponta entre os jovens a consciência de que é na família que se começa a resolver os problemas sociais, com a concepção de um lar estável, saudável e propício ao desenvolvimento da vida humana. Aos jovens que falta essa família estimuladora da vida, a propensão às tentativas de reprodução do ambiente familiar em grupos ou movimentos diversos é bastante grande.
Não podemos condenar esses agrupamentos de jovens em torno de objetivos os mais diferentes, embora nos possam parecer estranhos pois eles nada mais procuram do que a felicidade que deveriam Ter começado a experimentar em suas casas. Não podemos ser contra a juventude que retornar aos nossos “anos dourados” para entendermos o que se passa em uma geração que desaponta para a convivência em sociedade. Os jovens não são arredios aos mais idosos, desde que esses queiram transmitir suas experiências para servirem de subsídios ao desenvolvimento de uma consciência geracional autônoma. Os que veêm o tempo passar mas não isolam-se dos jovens, sentem diariamente a renovação de sua disposição à vida, mas os que pensam os jovens como receptáculos inertes e próprios ao uso para a realização de projetos pessoais reprimidos em sua juventude, somente sentirão a repulsa e desconsideração dos jovens, que esperam atitudes de apoio sem a interferência dos problemas individuais.
O momento de transição faz-se peculiar pela sua característica de desenvolvimento no sentido de busca de entrelaçamento do aspecto humano espiritual com o crescimento tecnológico experimentado na história recente da humanidade. Devido a esse caráter distinto desse nosso momento transitório, acreditamos e ajudamos a construir a emergente sociedade baseada na estabilidade familiar, na cooperatividade e na freqüência da participação da juventude.